Bem vindo!

Bem vindo!

A hora... tic tac tic tac

Conte até sessenta. Eu espero. Agora até sessenta mais 59 vezes. Os números tem que ter um espaço da batida do coração. Contou?

Pois é. Isso é 1 hora. Na minha hora, que é tempo para caramba, coloco coisas sobre as outras 23. Desde movimentos a sonhos. Do preto ao branco. Do sóbrio ao bêbado. De um dente a uma banguela. Você não gasta uma hora para ver aqui...

Fala "PRA" que é mais rápido e mais bonitinho e economiza tempo!

Nessa hora,

há: braços e pernas, beijos e vertigens, flores e merda!

terça-feira, 28 de abril de 2009

E roda a borboleta no meio da pista...

Negras nuvens. Fazia escuro. Os faróis porém não aquietavam-se. Aproximavam-se, aliás. E do meio das luzes, amarelas, brancas. laranjas e vermelhas, surgiam outras luzes vermelhas. E quanto mais perto, mais bonito ficava. Via tudo sob uma camada negra. A visão era meio borrada. Então, começou. Mordes meu ombro em plena turbulência. Onde já se viu? Mas gostei. Não reclamei e continuastes. Começou então num divago de sonhos. De repente estávamos no avião. E você era o co-piloto que fala pros passageiros colocarem o cinto pois a qualquer momento vai subir. Aeromoça nervosa pede calma. E então que o piloto, eu, começo a ter vertigens à direção. As luzes lá de fora começam a se tornar diferentes. Um vermelho rodopiando. demarcando os cantos da pista. Paradaise. Aliso teus seios e toco... Eita laiá! O meu peito pula! Exaltado coração! Desgoverno-me. E paro. Motos e carros e pessoas ao celular. Uma recepção! Aproveitando do fumê da janela. Tu, para minha surpresa. Toda recatada, olha para mim. Então despes a luva para eu ler-te a mão e não tem linhas tua palma. Enrouquecido quanto a isso, pois minha voz é quem abalada fica. Falo pra mim mesmo, Sei que é sonho, incomodado estou, num corpo estranho. Então olho pro lado e vejo o outdoor: Com governantes da América Latina... Mas nada ouço além de mim mesmo. Nem tua voz. Espasmo-me por isso. E um guarda, do lado de fora, notando meu olhar ardente em longínqua direção, observa meu profundo. Pelo menos tenta. O que sinto. Parece que faço parte dele. Parece que é naquele olho que me virá algo escaposo. Fé. Olho firme. Julgam todos que avisto alguma salvação... Mas não, é a ti que vejo na colina! Então olho pro meu lado e já não estás mais comigo. Desespero-me. Por onde andei aquele eterno espaço de alguns segundos. Pra onde te deixei fugir? Qual esquina dobrei às cegas? Onde estou? Que lugar é esse? E me senti transpassar a minha alma por um portal e cair. E caí no Cairo... Ou Lima... Ou Calcutá? E começo a gritar e a bravejar. MAs não me entendo... Nem eu mesmo a mim! Que língua é essa em que despejo pragas? Onde estou? Que muro é esse? E minha voz que se repete? E volta no som pra mim mesmo. Faz ecos. Não! espere! Já sei! O som saiu de mim. Foi, voltou e a muralha ecoa! Mas que cargas d'água! Onde estou? Imaginei-me esntão voltando ao início. Ao início de mim, da minha terra. Dos nativos, dos colonizadores. Portugal? Em Lisboa, pra ser mais exato! Pensei então estar naquela época. Num castelo em Lisboa. Eu era o herói. Não agora... Naquela época. Acho que era mais fácil ser herói numa terra que se não necessita muitos saberes. Os meus são suficientes. Podia ser o Rei! O Príncipe! O Bobo-Da-Côrte! Ou até mesmo ser o povo de fora do castelo, mas dentro do castelo. Podia ser um locatário do castelo. Alugava para o Rei. E ele me pagava bem muito dinheiro. Também, como pode? Faz algazarra a malta em meu castelo, paga pra isso! Pelo que sujar. Pelo que quebrar. Pelo risco. De repente me vem um flash... Ao lado do cartaz dos governantes havia um outro... O flash passa... Volta... A luz me dói o olho... Fica muito claro tudo... Tão claro como a cegueira branca... Estavam todos brancos! Ao lado via-se pálidos economistas pedem calma! De repente era o flash de uma máquina! Tirando fotos de mim... Olho pro lado e tu estás lá de novo... Da gente... Conduzo tua lisa mão... E apago.

Acordo novamente. Já não estás comigo mais. De novo. Por uma escada espiral parece que fojes. Mas na verdade nem sei se és tu... Nem sei se sou... Peço para olhar para cima... E no alto da torre exibo-te o varal, onde balança ao léu minh’alma...

Em Macau, Maputo, Meca, Bogotá... Foram tantos os lugares que passo. Como um flash vejo as cenas. Mas tudo embaça. Tudo clareia. Tudo branco fica. Que sonho é esse de que não se sai? Socorro! Que sonho é esse? E em que se vai trocando as pernas e se cai e se levanta noutro sonho... Não me sinto. Olhei pra mim e não me vi. Então não pode ser real. Sei que é sonho!


Volto pra Lisboa. No mesmo castelo. Percebo que sou do clero. Olho da janela o povo. Urgh... Me enojo... Estou no topo da torre. Aqui tem riqueza! E o povo me olha. Não porque da varanda atiro pérolas, mas é como se buscassem em mim um sinal. E a legião de famintos se engalfinha... Fico sufocado... Sem ar...


De repente olho pro lado e percebo que acordei. Não saímos do carro. Não saí dali. Nem saiste. estamos ali. Não ouço nada. Já era noite. E foi então que senti não sentir mais. Apenas vi uma borboleta sair de mim.

E fomos rápidos. Não porque voa nosso jato roçando catedrais, mas porque na verdade não me queres mais, aliás, nunca na vida foste minha. E nunca mais...







Varais

Alguma coisa me prende os ombros
Disseram pra olhar no que estou preso
É um fio de metal preso a escombros
Me deixa sempre acordado ou aceso

São palavras me guiando
São homens trabalhando
Sou eu preso a dores
São eles pregadores

Já cuidaram de mim
Já atuei no meu tablado
Já falei coisas sem fim

Não deram conta
Cansei de fazer de conta
A verdade? Me conta...

Vi outros fios presos em outros paus e pregos
Outros homens nem sempre acordados
Mas sempre enrolados nos próprios egos
Vivendo de acordo com seus reinados

E na verdade,
São palavras guiando

Os homens sonhando
Uma multidão de atores
Ignorando próprias dores

Mas ainda preciso de cuidado
Meu teatro tá aberto e lotado
E os clímax não dependem só de mim

Pois já pedi a conta
Mas meu anjo-garçom
Acha que dá conta

São pros varais que se devem olhar

As roupas nascem, compram-se, rasgam

Vão-se as roupas ficam os varais
Afinal de contas,


No que seu varal tá preso?


(texto adaptado e inspirado na música Sonhos sonhos são, de Chico Buarque)


Há: braços e pernas enroscados nos varais!

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